“Todo Amor é Bom”, do trio Lilith, sucesso nos anos 90 como abertura da minissérie Sex Appeal, ganha remix dos DJs Joutro Mundo e Gaspar Muniz

Pioneira do street soul brasileiro, a canção é rainha dos bailes charme e viaja agora para as pistas internacionais unindo efeitos vintage e inovação

Quem viveu os anos 90 acompanhou o estouro da banda Lilith, conhecida nacionalmente pela trilha de abertura da minissérie “Sex Appeal”, exibida em 1993 pela TV Globo, que lançou atrizes como Luana Piovani, Camila Pitanga, Danielle Winits e Carolina Dieckmann. A música Todo Amor é Bom” tomou as rádios e programas de televisão com a Lilith, um moderno e provocante trio de mulheres formado por Valéria ValenssaCarla Alexandar Cristina Ribeiro.

Trinta de dois depois, a faixa ganha um remix especial pelas mãos dos DJs Joutro Mundo (Jonas Rocha) Gaspar Muniz, trazendo para novos palcos, pistas e apps de streaming este sucesso com ar retrô apontando para o futuro. O single e o visualizer (criado pelo artista Nicolai Lami) são lançados hoje (31/jan) pela Universal MusicAssista ao visualizer:

O Lilith trazia mais que beleza para a música brasileira noventista: Elas ousavam em sua estética conceitual moderna – exibida nos figurinos e coreografias – e traziam frescor no som, um mix de pop, soul e música eletrônica, com um pé no EUA e outro no Brasil.

Neste trabalho buscamos criar uma conexão entre o passado e o presente. O remix incorpora elementos do house dos anos 90 com influências modernas, mantendo a atmosfera envolvente da faixa original. Para isso, exploramos a estética do Italo House”, conta Jonas Rocha. “Espero que o trabalho traga um novo momento para a música, permitindo que ela alcance diferentes públicos ao redor do mundo. Criamos algo que funciona tanto para ouvir no streaming quanto para abrir um set com elegância, equilibrando essa nostalgia com uma energia renovada”, completa Gaspar Muniz. Se depender dos testes que eles têm feito nas pistas, o lançamento digital é o melhor caminho para disseminar a verve dançante e livre da canção, principalmente sob a chancela e produção de Jonas e Gaspar, dois ases em atrair novos prismas e ouvidos para a música brasileira.

A principal responsável por trazer “Todo Amor é Bom” à tona novamente, canção mais que atual nos tempos de hoje, é a ex-vocalista Carla. Radicada há 25 anos na Dinamarca, hoje ela é Carla Schack, DJ, pesquisadora e produtora musical no duo eletrônico Batukizer (“Batukáizer”), ao lado do marido Rasmus Schack. O casal garimpa preciosidades sonoras da MPB em vinil e remixa para as pistas do Brasil e do mundo. Foi através deste trabalho que Carla e Jonas se conheceram e, após alguns anos de amizade, ela teve a ideia do remix. “Nós somos a própria fonte da globalização. A originalidade brasileira é a mistura, essa antropofagia cultural, um tempero que só nós temos. A Lilith tinha esse suingue, essa voz”, diz Carla, que também leciona Inovação e Empreendedorismo em Copenhague.

A artista, então, consultou Cristina e Valéria e com o OK das ex-companheiras partiu para a produção. Jonas convidou Gaspar Muniz, brasileiro radicado em Nova Iorque e com uma forte pegada groovy, e juntos desenvolveram o clima da track. “A faixa original já era muito bem feita e interessante. Nosso foco foi criar uma versão com mais energia, acelerando o tempo e adicionando elementos rítmicos e melódicos que trouxessem um toque nostálgico, mas também contemporâneo”, conta Gaspar. “Recorremos a sintetizadores analógicos para dar mais personalidade ao som, como o Oberheim OB-6, Typhon e o módulo da Emu Proteus 2000, que ajudaram a criar uma vibe retrô com o beat dando um crush de MPC”, explica Jonas Joutro Mundo Rocha.

Logo nos primeiros segundos de Todo Amor é Bom”, já percebemos o quanto esta nova versão fará ainda mais sucesso nas pistas do Brasil e do mundo. Dançante, livre e vibrante, o remix eleva o público para um estado de amor sincero e destaca o pioneirismo do street soul da Lilith e seus arranjos suingados – Não à toa, esta é uma canção obrigatória nos principais bailes charme do Rio de Janeiro até hoje. O título e a letra de Todo Amor é Bom” sublinham a aura da canção e evocam o amor como expressão de vida. “Acho que a noite e o público estão precisando desse tipo de música. Trazíamos a mensagem de um amor universal, sem agressão, sem apelação, sem criticar quem é diferente de você”, afirma Cristina Ribeiro. “Os meninos apresentam agora a música numa roupagem atual para esta geração. Achei muito bom”, completa ela, que vive na Califórnia há 30 anos e atua como empresária em sua agência de atores Starburst Talent e é Diretora Artística em diversos projetos, entre eles o Melange Movement, criado na Universidade de Stanford, que promove inclusão e valorização de minorias no universo da moda & beleza.

Lilith durou cerca de um ano. Se hoje o mundo se vê mergulhado em polarizações de opiniões e atitudes, principalmente no que diz respeito às mulheres, nos anos 90 esse contexto não era tão diferente, e as artistas sentiram o machismo e o preconceito diante do empoderamento e da liberdade que o trio feminino representava. “Nossa música não era sexual, mas uma parte da mídia e do público a via assim por serem três mulheres bonitas e sexies cantando e dançando”, lembra Carla. “Nós estávamos conectadas ao universo pop internacional, à MTV, influenciadas por nomes como Madonna e ícones da moda como Thierry Mugler, por exemplo”, descreve Cristina. Hoje, elas veem as cantoras brasileiras em vantagem por terem a Internet como aliada de expressão e posicionamento. Porém concordam, de uma maneira geral, que o apelo sexual se sobrepôs à música no pop brasileiro e que um “caminho do meio” seria o ideal, já que o próprio nome do grupo – Lilith – se referia à personagem mitológica da primeira mulher de Adão, que teria sido expulsa do Éden por não se submeter ao jugo masculino.

Assim como a Lilith trouxe uma novidade no entretenimento nacional nos anos 90 – capitaneada pelo diretor artístico da Polygram, Max Pierre, o produtor musical Geo Benjamin e a colaboração do multiartista Lord K -, o lançamento de Todo Amor é Bom chega ao mercado em um momento oportuno de mergulho e renovação do catálogo da rica música brasileira. “A MPB sempre teve um lugar de destaque no cenário global por sua autenticidade e diversidade. Vejo uma curiosidade crescente lá fora pelos clássicos da MPB e pelas produções atuais e experimentais. O remix é uma forma de continuar esse diálogo cultural e de mostrar que nosso legado musical ainda está muito vivo e relevante”, diz Jonas Rocha.

DJs, curadores e produtores de festas e eventos ganham um remix pulsante e visionário para suas pistas, e a banda Lilith, um reverb à altura de seu inventivo trabalho para o Brasil e o mundo. Afinal, “Todo Amor é Bom”, desde que seja vivo, sincero e feliz.

Janeiro de 2025
Por Kélita Myra

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