Como pode um pop-rock de pouco mais de três minutos permanecer na mente do ouvinte por horas, dias e semanas, numa época em que a arte é forjada para consumo rápido e descartável, numa verdadeira guerra pela atenção? A resposta é a música “Trágico”, primeiro single do album “O Sertão Vai Virar Marte”, da banda Super Condutores, que chega hoje às plataformas de streaming.
“Trágico” não é memorável apenas por suas qualidades sonoras e seus timbres; pela sua textura imbricada de violão de aço, guitarra, piano e sintetizadores, nem pelo refrão marcante cantada na voz pungente de Vítor Patalano, mas, sobretudo, porque sua letra trata da própria ideia de permanência, e de como o ser humano só é inteiro quando capaz de harmonizar os elementos apolíneos (ordem e beleza) e dionisíacos (caos e emoção), que nele coexistem. Esse era o Ser Trágico para Nietzsche, um pensador inspirado e apaixonado pela música.
“Trágico” se destaca na cena da música pop-rock introduzindo uma atmosfera sonora e estética única, e mostrando que a música brasileira pode habitar e transitar tanto acima quando abaixo dos trópicos. “Se tudo se perdeu / Ainda assim ficou / O homem que eu / O homem que eu / O homem que eu / Sou”, diz a letra. Os hits do momento passam. As relações virtuais passam. O feed dos algoritmos passa. Mas “Trágico” e a banda Super Condutores parecem ter vindo pra ficar.