“Tudo vai bem, tudo legal/ Cerveja, samba, e amanhã, Seu Zé/ Se acabarem teu carnaval?”
Quando Gonzaguinha lançou o álbum “Luiz Gonzaga Jr.” em 1973, os incisivos versos de uma das faixas já eram conhecidos pelo público. Gravado em um compacto no ano anterior, o samba “Comportamento geral” ganhou notoriedade ao ser taxado de subversivo em um programa de TV.
Como resultado, o compacto vendeu o bastante para que Gonzaguinha finalmente gravasse seu primeiro LP, com dez faixas. A valsa “Sempre em teu coração” roda melancólica e abre o caminho para a amorosa “Minha amada doidivana”, um quase bolero, gênero musical que Gonzaguinha visitaria com frequência. O clima muda radicalmente em “Página 13”, forte relato de uma tragédia que parece ter saído das páginas policiais.
O autor de futuros sucessos amorosos pergunta em “Romântico do Caribe”: “Há quanto tempo a gente não dança um bom bolero, à meia luz?” O ritmo marcial de “Sim quero ver” embala o sonho da volta da democracia. A esperança permanece na tropicalista “A felicidade bate à sua porta”, mas a cortante “Palavras” aponta para a necessidade de se lutar por ela. O arranjo de “Moleque”, autorretrato do carioca criado no Morro de São Carlos, remete às raízes nordestinas do filho de Luiz Gonzaga. A já citada “Comportamento geral” põe o dedo no conformismo, enquanto “Insônia” fala das noites dos que sonham acordados por dias melhores.
Entre críticas ácidas e sensíveis momentos de amor e saudade, Gonzaguinha concebeu este importante álbum da MPB, que a Universal Music relança agora em vinil. Confira aqui.