Artista, que faria 60 anos em dezembro, é celebrada por elenco all-star em dois álbuns com gravações inéditas do repertório da cantora na cadência do reggae
Gênero musical que floresceu na Jamaica ao longo dos anos 1960, ganhando o mundo na década seguinte, o reggae também simboliza um estado de espírito. É um ritmo que emana vibrações de paz, amor e justiça social. Essas boas vibrações são direcionadas por um elenco all-star para Cássia Rejane Eller (10 de dezembro de 1962 – 29 de dezembro de 2001) em dois álbuns produzidos por Sergio Fouad e Fernando Nunes para a Universal Music, sob a coordenação de Taísa Rennó e Alice Soares, para celebrar os 60 anos de nascimento da artista carioca.
O primeiro álbum do projeto “Cássia Reggae” chega ao mercado fonográfico em 1º de julho, Dia Internacional do Reggae, promovido pela gravação de “O Segundo Sol” (Nando Reis, 1999), na voz de Gilberto Gil. A faixa gerou clipe que entra em rotação às 11h do mesmo dia 1º de julho. Previsto para o segundo semestre desse ano, o segundo disco complementa o projeto que reúne todos os músicos que tocaram com Cássia ao longo das várias fases da carreira da artista e cantores que cruzaram o caminho pessoal e artístico da cantora, além de vozes afinadas com o reggae e com a música da artista.
Uma das maiores saudades do Brasil, Cássia Eller deixou discografia referencial que totaliza nove álbuns lançados entre 1990 e 2021, além de títulos póstumos como “10 de Dezembro” (2002). São nesses discos que estão as músicas reprocessadas na cadência jamaicana em “Cássia Reggae”, com os toques de músicos como Fernando Nunes (baixo), Caio Garcia (guitarra) e Guaraci Akani (bateria).
É justo que o foco inicial do primeiro disco do projeto duplo jogue luz sobre “O Segundo Sol” na visão de Gilberto Gil. Além de ser compositor gravado por Cássia, que deixou registros de músicas como “Oriente” (revivida em 1992) e “Pedra Gigante” (parceria com Bené Fonteles que Cássia gravou em 1999), além de ter cantado “Chororô” com o autor, Gil foi um dos primeiros cantores a importar o reggae para o Brasil nos anos 1970.
Contudo, é inevitável que Nando Reis seja o compositor mais recorrente na ficha técnica de “Cássia Reggae 1”. A irmandade entre Cássia e o artista fez com que a cantora fosse, a partir de 1999, uma das mais perfeitas traduções do cancioneiro pop de Nando. Ainda assim, é com música alheia – “Lanterna dos Afogados” (Herbert Vianna, 1989), canção regravada por Cássia em álbum de 1994 – que Nando Reis abre o álbum “Cássia Reggae” com reggae evocativo da alma roqueira que animava o espírito da cantora e que norteou a obra de Nando na fase vivida com o grupo Titãs.
Herdeiro artístico da Cássia, Francisco Eller – Chico Chico ou Chicão, para os íntimos e para o Brasil – é presença indispensável nesse tributo. Em “Cássia Reggae”, Chicão se junta a Jorge Du Peixe para dar acento jamaicano a “Coroné Antônio Bento” (João do Vale e Luiz Wanderley, 1970), o baião encharcado de soul apresentado ao Brasil por Tim Maia (1942 – 1998) e revivido por Cássia no disco de 1994 em que a cantora adotou repertório mais pop. Pupilo toca bateria na faixa, também encorpada com o toque da guitarra de Walter Villaça, músico que tocou com Cássia.
Em registro vibrante, “Amor Destrambelhado”, estão Lan Lanh e Márcio Mello, compositores da música que Cássia tomou para si no show baseado no álbum “Veneno Antimonotonia” (1997) por detectar o parentesco da letra com a sintaxe da obra de Cazuza (1958 – 1990), mote do disco e do show, eternizado nos álbuns “Veneno Vivo” (1998) e “Todo Veneno Vivo” (2019).
Projetado nacionalmente a partir de 1993 como vocalista de uma das bandas de reggae mais populares do Brasil, Cidade Negra, Toni Garrido joga “Palavras ao Vento” (Moraes Moreira e Marisa Monte, 1999) em cadência pulsante enquanto Margareth Menezes, potente voz associada primordialmente ao samba-reggae da Bahia, se junta ao Maestro Tiquinho, ás do trombone, para ecoar “Malandragem” (Roberto Frejat e Cazuza, 1994).
Fechando o primeiro volume de “Cássia Reggae”, Zé Ricardo turbina “O Meu Mundo Ficaria Completo (Com você)” em gravação que tem os toques do baterista Cezinha e do tecladista Marcio Lomiranda.
O elenco all-star de “Cássia Reggae” emana as melhores vibrações para a cantora que saiu precocemente de cena, aos 39 anos, mas permaneceu na memória afetiva do Brasil.
Cássia Eller vive!
Mauro Ferreira
Junho 2022