O momento crucial na origem do novíssimo e espetacular álbum “Rock Believer”, dos SCORPIONS, está em uma canção de Klaus Meine, que escreveu as letras do álbum: “Gas In The Tank”. Como diz o próprio Meine, vocalista da banda: “Antes de começarmos a trabalhar no novo álbum, nós nos perguntamos: ‘Será que ainda temos gasolina o suficiente?’”.
Os Scorpions são um grupo cuja carreira musical se estende por cinquenta anos, desde o lançamento de seu primeiro álbum de sucesso, “Lonesome Crow”, em fevereiro de 1972, até a chegada de “Rock Believer”, em fevereiro de 2022. As perguntas antes deste novo disco estavam no ar. Será que a banda ainda teria a paixão, a resistência e a força bruta necessária para criar e gravar uma ou duas dúzias de faixas totalmente novas? Será que seus 18 álbuns de estúdio e todos os discos de platina e platina dupla que ganharam em todo o mundo já não eram o bastante para aqueles músicos incansáveis? Ainda há gasolina o suficiente no tanque para continuar? Agora, uma das músicas do quinteto fornece a resposta para essas perguntas: “Let’s play it louder play it hard/ Laid back and a little dark/ Give me a dirty riff my friend/ There’s gotta be more gas in the tank” (“Vamos tocar mais alto, tocar com mais força/ Descontraídos e um pouco sombrios/ Me dê um riff sujo, meu amigo/ Tem que ter mais gasolina no tanque”).
São ao todo 16 faixas incríveis, cada uma delas como um conto, pequenos poemas em prosa apresentados com luxuosa roupagem sônica, estampando a marca registrada dos SCORPIONS do início dos anos 1980, mas produzidos sob uma perspectiva dos anos 2020. A riqueza de inspiração da longa carreira da banda é um tesouro transbordante que forja uma ponte entre o ontem e o amanhã. O comentário de Klaus Meine sobre “Roots In My Boots” se aplica a todo o álbum: “O novo material somos nós de volta às nossas raízes. Queríamos simplesmente reativar o DNA original dos SCORPIONS – grandes riffs, melodias fortes. Tentamos transportar essa sensação do ao vivo para o estúdio com todos nós cinco finalmente tocando juntos em uma sala novamente. Ter Mikkey Dee na banda é como uma dose de energia fresca. E diversão de verdade”.
A base deste extraordinário álbum foi a ideia do bem sendo identificado a partir do mal, desenvolvida a partir de conceitos do grande filósofo e professor de Stanford Paul Watzlawick. Outro fator importante foi a pandemia de covid, que impôs freios na vida pública, nas viagens e no trabalho. “Já tínhamos começado a falar de um novo álbum em 2018”, lembra Rudolf Schenker. Um ano depois disso, Klaus Meine tinha completado a primeira letra. E então a covid chegou. Em turnê por Austrália, Nova Zelândia e pelo sudeste asiático, a banda quase não conseguiu voltar à Europa como tinha programado. De repente, nada mais foi o mesmo. Os concertos foram cancelados, as arenas fecharam.
“De certa forma”, diz Matthias Jabs, “a situação foi uma espécie de bênção para nós”. A banda já tinha contratado um estúdio em Los Angeles, mas seus planos foram frustrados pelo destino. Os músicos se viram presos em casa, três deles a apenas a um passo do lendário Peppermint Park Studios, em Hannover, na Alemanha. Assim que as restrições de viagem foram relaxadas, Pawel Maciwoda e Mikkey Dee puderam se juntar a eles, vindos da Polônia e da Suécia, respectivamente. “E de repente parecia que tínhamos voltado à década de 80, quando nós cinco nos esbaldávamos, passando a noite no pub da esquina, conversando sobre nossa música”, lembra Matthias Jabs.
Os elementos básicos do rock sempre acompanharam a sociedade em constante evolução. Como canta Klaus Mein na faixa título, “Rock Believer”: “Scream for me screamer/ I‘m a rock believer like you just like you/ Come on scream for me screamer/ I‘m a rock believer like you just like you” (“Grite pra mim, gritador/ Sou um verdadeiro fiel do rock como você/ Venha gritar para mim, sou um verdadeiro fiel do rock como você”). Klaus Meine comenta a letra: “Há muitos anos ouvimos gente repetindo que o rock está morto. Mas ainda há milhões de ‘rock believers’ em todo o mundo para provar que estão errados. Nossos fãs são os melhores do mundo …. Nós vamos nos encontrar um dia, em algum lugar por aí, porque somos ‘rock believers’ como você”.
Os elementos básicos da sociedade que compõem o rock se espalham pelo espaço e pelo tempo. São átomos que avançam incansavelmente, como antigos guerreiros nórdicos, trazendo caos e paixões terrenas. Suados, pesados, movidos por ritmos primais. Como diz o single principal, “Peacemaker”: “The evil monster is still alive/ Even after all this time/ It‘s been written in the stars/ Forever love stop the war/ Peacemaker peacemaker/ Bury the undertaker” (“O monstro maligno ainda está vivo/ mesmo depois de todo este tempo/ Está escrito nas estrelas/ O amor eterno faz parar a guerra/ Pacificador, pacificador/ Enterre o coveiro”). Klaus Meine explica: “Eu só estava brincando com essas palavras. ‘Pacificador’, ‘enterre o coveiro’… Qual é o significado por trás disso? Numa época em que tantas pessoas morreram e ainda estão morrendo de covid ou em guerras devastadoras e outros crimes sem sentido, a gente sente que o coveiro deve estar fazendo hora extra. Em um mundo pacífico após a pandemia, virá a hora do pacificador governar… Essa é uma imagem que realmente me atrai”.
O rock escrito, composto e executado pelos Scorpions faz crônica dos acontecimentos atuais. É uma obra que não só captura as características sociopolíticas de nosso tempo, mas às vezes até as antevê. Atitude é o termo apropriado. Poucas outras bandas de rock com raízes alemãs podem nos dizer tanto de sua própria experiência sobre o mundo e seus lados sombrios quanto os SCORPIONS. Não há nenhum continente pelo qual não tenham excursionado, muito poucos países ao redor do mundo onde não tenham se apresentado. Como eles dizem em “When Tomorrow Comes”: “Good morning world, how do you feel/ You look so sad/ The clock is ticking and precious time will fade Away” (Bom dia, mundo, como você se sente?/ Você parece tão triste/ O relógio está correndo e o tempo precioso vai desaparecer”)”. Klaus Meine escreveu a letra dessa canção durante a pandemia: “É dirigida à geração jovem, que em breve assumirá a responsabilidade por nosso planeta”.
“Rock Believer” surgiu de uma experiência nova no processo criativo da banda. “Pela primeira vez, eu recebi letras de Klaus para compor música para elas. Sempre foi o contrário, primeiro a música, depois a letra”, conta Rudolf Schenker. O guitarrista sentou-se sozinho em seu carro, e começou a ouvir as letras uma a uma, enquanto dirigia. “Eu imediatamente tive ideias para as composições, as palavras realmente começaram a aparecer”. O resultado é um álbum que impressiona com um som frequentemente áspero e sinistro. “Basicamente, concordamos em fazer apenas algumas baladas, como ‘When You Know (Where You Come From)”, diz o guitarrista principal Matthias Jabs, que escreveu “Hot And Cold” e “Crossing Borders”. O álbum foi produzido pela própria banda, com o apoio de Hans-Martin Buff. No total, as sessões no Peppermint levaram mais de um ano.
SCORPIONS é uma das bandas de rock mais importantes do mundo nas últimas décadas. Vendeu mais de 120 milhões de discos, fez mais de cinco mil shows e criou pelo menos um clássico atemporal, “Wind Of Change”, que dominou as paradas internacionais e ainda é o single mais vendido em todo o mundo por um artista alemão. Além dos inúmeros prêmios e honrarias conquistados, a banda tem uma estrela na Hollywood Rock Walk of Fame. Alguns de seus hits, como “Rock You Like A Hurricane” e “Still Loving You”, atravessam gerações como clássicos. O sucesso ininterrupto sublinha de forma impressionante a influência que os SCORPIONS continuam a ter na cena do rock. O novo álbum, “Rock Believer”, será lançado no selo Vertigo da Universal em 25 de fevereiro.
A próxima turnê tem o mesmo nome que o disco. Em março e abril de 2022, a banda vai se apresentar no Planet Hollywood Resorts & Casino em Las Vegas, seguindo para um uma turnê europeia programada para começar pela Alemanha em junho de 2022, além de outros shows ao redor do mundo.
“Rock Believer” é talvez o álbum mais característico do grupo até hoje – uma gravação de uma banda no auge de sua arte musical. O Scorpions ainda é a única banda internacional que esteve no palco Mundo no primeiro e no último Rock in Rio.