Antes mesmo de chegar às lojas físicas, a Universal Music Store disponibiliza hoje o álbum “Severino”, que completa 25 anos de lançamento
Lançado em 1994, o sétimo disco d’Os Paralamas do Sucesso entregava suas influências já no nome: “Severino”. Paraibano de nascença, Herbert Vianna mirou a saga do retirante nordestino escrita pelo poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto para mostrar que muito pouco, ou quase nada, havia mudado desde o lançamento do poema “Morte e vida severina” em 1955. Herbert e seus parceiros, Bi Ribeiro e João Barone, ousaram na produção musical, apresentando um trabalho sofisticado que, por abrir mão de melodias e refrões mais palatáveis, não foi bem recebido por parte da crítica e do público. A estranheza começava pela capa de “Severino”, que reproduzia um manto bordado pelo artista plástico Arthur Bispo do Rosário, representando um homem cercado por nomes de órgãos e partes constituintes do corpo humano e, abaixo, a frase “Eu preciso destas palavras ‘escrita’”. Interno da antiga Colônia Juliano Moreira, onde viveu por mais de 50 anos, o sergipano Bispo do Rosário também era um retirante, um “severino”.
Gravado na Inglaterra, com produção de Phil Manzanera, ex-guitarrista da banda Roxy Music, “Severino” significou uma virada estética ainda mais radical que a de “Selvagem?”, disco de 1986, ao avançar na trilha do experimentalismo e da crítica social. “És tu Brasil, ó pátria amada, idolatrada por quem tem/ Acesso fácil a todo os teus bens/ Enquanto o resto se agarra no rosário/ E sofre, e reza/ À espera de um deus que não vem”, versos contundentes como os de ‘O rio Severino’, originalmente gravada por Herbert em seu primeiro disco solo (“Ê batumaré”), ganharam arrojados arranjos executados com a utilização de instrumentos musicais convencionais e outros inusuais, como canos de PVC e furadeiras.
Tom Zé, uma das figuras-chave do movimento tropicalista, tem participação dupla no álbum: é autor da canção “Músico” e cantou na faixa “Navegar impreciso” ao lado do poeta e cantor jamaicano Linton Kwesi Johnson. Coautor de “El vampiro bajo el sol”, o cantor e compositor argentino Fito Paez tocou piano nesta faixa, que ainda teve as participações especiais de Bryan May, guitarrista do Queen, e da também inglesa Reggae Phillarmonic Orchestra.
O single de lançamento do disco, “Cagaço” (“Eu tenho cagaço de descer ladeira abaixo/ Eu tenho cagaço de pensar demais”), não emplacou nas rádios, que preferiram o romantismo de “O amor dorme”. A faixa “Dos margaritas” fez sucesso em países como México, Uruguai e Argentina, dando nome à edição latino-americana do álbum, que ampliou a popularidade do trio em países de língua hispânica. Enquanto isso, no Brasil, a turnê de “Severino” gerou o disco ao vivo “Vamo batê lata”, que vendeu mais de 1 milhão de cópias, mas este é assunto para outro release. Vinte e cinco anos depois, as questões sociopolíticas – e musicais – levantadas por Herbert, Bi e Barone permanecem atuais e “Severino” vem ganhando o merecido status de obra cult da banda. A Universal Music celebra a efeméride com esta nova tiragem em vinil.
Por Julio César Biar
Lado A
1 – Não me estrague o dia (Herbert Vianna/ Bi Ribeiro)
2 – Navegar impreciso (Herbert Vianna) Part. Especiais Tom Zé e Linton Kwise Johnson
3 – Varal (Herbert Vianna)
4 – Réquiem do pequeno (Herbert Vianna)
5 – Vamo batê lata (Herbert Vianna)
6 – El vampiro bajo el sol (Fito Paez/ Herbert Vianna)
Lado B
1 – Músico (Tom Zé)
2 – Dos margaritas (Herbert Vianna/ Bi Ribeiro)
3 – O Rio Severino (Herbert Vianna)
4 – Cagaço (Herbert Vianna/ Bi Ribeiro)
5 – O amor dorme (Herbert Vianna)