UNIVERSAL MUSIC PASSA A DISTRIBUIR DIGITALMENTE O CATÁLOGO DE EGBERTO GISMONTI

No dia 23 de agosto, chegam às plataformas digitais os álbuns “Caçador de Infância”, de Grazie Wirtti e Matias Arriazu, e “Violão Solo (Universo Musical de Egberto Gismonti)”, de Daniel Murray

Obras integram o catálogo do selo Carmo, de Egberto Gismonti

Desde 1969, as direções da icônica gravadora alemã ECM na música e no som incorporaram os conceitos de amigos e parceiros encontrados ao longo do caminho. Um desses parceiros é o brilhante guitarrista e pianista brasileiro Egberto Gismonti, cujas gravações na ECM incluíram álbuns solo, projetos com grupos aclamados incluindo o trio “Mágico”, com Jan Garbarek e Charlie Haden, o duo com Nana Vasconcelos, a banda Academia de Danças, o quarteto/trio com os colaboradores Nando Carneiro e Zeca Assumpção e colaborações com orquestras. Até o momento, a ECM lançou 17 álbuns com Gismonti e outros 16 no próprio selo de Egberto, a Carmo, onde ele é apresentado como solista, sideman (músico), compositor, arranjador e produtor.

A ECM distribui o selo Carmo, globalmente, desde 1991.

Este ano, Egberto Gismonti lança dois novos álbuns pela Carmo:

Carmo 17: Grazie Wirtti, Matias Arriazú – Caçador de Infância

Carmo 18: Daniel Murray – Violão Solo (Universo Musical de Egberto Gismonti)

Egberto Gismonti

A complexidade do Brasil, seu entrelaçamento e coexistência de cultura, encontra eco na música de Egberto Gismonti, que se vale de recursos “primitivos” e “sofisticados”. Como observou o crítico Josef Woodard, na obra de Gismonti “a linha entre o folclore, a herança clássica, as sugestões do jazz e os modos inomináveis de invenção são maravilhosamente mesclados”.

Nascido no Brasil em 1947, na pequena cidade de Carmo, no Rio de Janeiro, Gismonti estudou piano desde os cinco anos e, mais tarde, flauta e clarinete. Ele é autodidata em violão, instrumento que ele aprendeu aos 21 anos, logo desenvolvendo suas inovadoras técnicas de duas linhas simultâneas e contra-melodias. Em 1970, ele viajou a Paris para estudar com dois professores importantes, a famosa pedagoga Nadia Boulanger e o compositor de doze notas Jean Barraqué, o discípulo mais dedicado de Webern. Por mais valiosas que fossem essas experiências, elas serviram também para fortalecer o respeito de Gismonti pela música de sua terra natal, que lhe parecia ser de um recurso ilimitado. “World Music”, como seria mais tarde denominada, estava à sua porta – tantas tradições musicais se sobrepunham e se encaixavam no Brasil: “Todas as culturas europeias e outras culturas fazem parte de nossa cultura”. Ele sempre citou seu tempo com os índios do Xingu, na selva amazônica, como parte crucial de sua educação musical e filosófica, aumentando a consciência dos elementos essenciais necessários à sobrevivência, na arte e em outros lugares.

Na década de 1970, aconteceram experiências com músicos de jazz, incluindo o carinhosamente lembrado grupo “Mágico”, com Jan Garbarek e Charlie Haden (ele se reuniu brevemente com Haden em 1989 para uma apresentação posterior “Em Montreal”), e também jam sessions em Los Angeles com Herbie Hancock e Wayne Shorter, além de colaborações com Paul Horn e Ron Carter. Mas, no último quarto de século, ele seguiu sua própria poesia rigorosamente em amplos contextos brasileiros, buscando penetrar nos mistérios e segredos de seu país e celebrar sua diversidade cultural.

A estrutura heterogênea e multicultural é provavelmente a característica mais notável da sociedade brasileira. Durante os 170 anos de história, não houve polarização – mas levou a uma grande mistura com o africano, o indiano, o oriental, o europeu e, desde o século XX, o norte-americano. A mistura multicultural resultante desenvolveu um clima tolerante fértil no qual a cultura brasileira foi capaz de crescer.

O poeta Oswald de Andrade descreveu esse elemento absorvido como “antropofagismo”. Sua definição desse canibalismo cultural pode ser considerada como: “uma maneira brasileira de ver o mundo sob o aspecto de emaciação, de uma adaptação crítica de experiências não locais e da reavaliação dependendo de temas nacionais no sentido de canibalismo segundo os selvagens”.

Esse comportamento tolerante em relação às culturas estrangeiras fez do Brasil um protagonista das importantes variações de ”World Music“. Dependendo de sua própria civilidade mista, o Brasil estava predestinado a cruzar todas as influências musicais possíveis. Isso criou uma variedade folclórica e popular. Mas é um erro reduzir a música brasileira ao samba, à bossa nova e a lambada, que foi criada por dois plagiadores de Paris. O etnólogo brasileiro Edison Carneiro explorou mais de 40 variações de samba. Mas existem muito mais que podem ser encontradas neste país tropical: há também baião, forró, frevo, choro ou rancho, para dar apenas alguns exemplos. Todos esses estilos diferentes podem ser explorados em outras diversas misturas e também podem ser encontrados na música pop ocidental ou no jazz.

Uma das gravadoras, criadas para representar uma variedade de músicas brasileiras, foi a CARMO, liderada por Egberto Gismonti.

Gismonti analisou o rico potencial de suas raízes culturais e também a origem dos tradicionais instrumentos brasileiros. Como resultado, ele é capaz de tocar diferentes instrumentos como piano, guitarra, bandolim, vários instrumentos de percussão e flautas. Ele passou dois anos explorando várias afinações e procurando diferentes sons, o que o influenciou a experimentar calimbas, sanzas, cuícas e o bambuzal, que foi criado por ele.

Ele também fez novas experiências quando se juntou aos “Índios do Alto Xingu”, no Amazonas. Absorvendo os sons da selva, ele aprendeu um pouco sobre a natureza das expressões musicais. Gismonti ficou muito impressionado com as lições que o “Pajé” (curandeiro/orientador espiritual) Sapaim lhe deixou. Ele percebeu que o caminho reto é muitas vezes o mais rápido, mas nem sempre o melhor. Gismonti considera sua própria música como uma expansão de sua personalidade e suas gravações como um sonoro álbum de família.

Ele vê o intercâmbio cultural e a mistura estilística como uma maneira especial de superar a discriminação racial. Ele está lutando por uma linguagem musical sem barreiras e considera sua própria música como um espelho da híbrida sociedade brasileira.

O mesmo pode ser dito sobre os lançamentos da CARMO. Entre os artistas estão o guitarrista e pianista Nando Carneiro, o cantor e percussionista Aleuda, o percussionista e baterista Robertinho Silva, o pianista Luiz Eça, Luigi Irlandini, Antonio José e muitos outros. É claro que Egberto Gismonti também se apresenta tocando.