O CANTOR, COMPOSITOR E MULTI-INSTRUMENTISTA CARIOCA SURICATO LANÇA O ÁLBUM “NA MÃO AS FLORES”. ASSISTA TAMBÉM AO VIDEOCLIPE DE “DESVENTURA OU SORTE”

O tempo, o senhor do castelo onde mora o destino, tem suas razões. E elas vão nos moldando ao longo da estrada da vida. Artista de muitas facetas, Rodrigo Suricato costuma dizer que nasceu músico e depois desejou ser compositor, numa busca que apenas a experiência poderia concretizar e aprimorar – ou não.

Felizmente, o tempo tem sido amigo do artista, como prova o seu terceiro e novo álbum, “Na Mão as Flores” (Universal Music), todo composto, arranjado, tocado, interpretado e produzido por Suricato. Marco Vasconcellos também assina a produção – um bonito cartão-postal folk pop de um autor maduro. A faixa-título do álbum de 11 canções já entrega uma sinceridade que permeia todo o trabalho, composto e produzido entre 2017 e 2018. Ouça e baixe aqui.

O pior de mim está na mesma mão que trago flores pra você”, diz a letra confessional de quem reconhece seus defeitos na construção diária de uma relação amorosa, que passa pela aceitação das diferenças de cada um. Humano, demasiadamente humano“.

Esse disco nasceu autobiográfico, mas também é sobre todos nós. Tem uma leveza que disfarça sua profundidade, para os mais desavisados, pode algumas vezes soar simples demais. Ele possui uma positividade que tem muito a ver com a minha maneira de enxergar as coisas. É sobre utopia. Falo de desejos da nossa natureza humana”, diz Suricato sobre o álbum, que tem pontos fortes também nas faixas “Admirável Estranho”, “Astronauta”, “Solidão” e “Horizonte”, uma ode à utopia.

Apaixonado pela sonoridade pop, Rodrigo Suricato rearranja suas influências do folk de modo mais moderno e contemporâneo. O blues e o conhecido virtuosismo do artista na guitarra são destaques na regravação do clássico “Como Nossos Pais”, do grande Belchior (1946-2017), única canção não autoral do álbum.

Eu acho que o contexto social atual me levou a revisitar ‘Como Nossos Pais’. Belchior era fã de blues assim como eu. Percebi durante o processo de autoconhecimento que resultou no disco, que a gente repete inconscientemente alguns padrões de outras gerações. Reconhecê-los dentro de mim e aperfeiçoá-los foi a parte mais dolorida e linda desse processo”, diz Suricato, que ganhou projeção nacional no showbiz ao participar da primeira temporada do reality show SuperStar, da Rede Globo, em 2014. Acompanhado por mais de 12 músicos durante a trajetória do projeto, lançou dois álbuns, sempre entre o folk e o rock, antes de absorver novas influências sonoras, incluindo um toque mais eletrônico, até finalmente se assumir como “banda de um homem só”, na qual toca simultaneamente diversos instrumentos, dos pés às mãos. Atualmente, ele também é vocalista do Barão Vermelho.

Não gosto de ficar parado. Eu gosto muito do intercâmbio. Acho que a música permite essa promiscuidade e ainda dormir bem com a cabeça no travesseiro (risos). Seria um desperdício tocar um repertório de, sei lá, 20 músicas a minha vida inteira com as mesmas pessoas. Sou um dos poucos no Brasil que entra em turnê com dois trabalhos distintos. Com a entrada no Barão Vermelho, eu consigo ter o que todo mundo deseja na vida: um lugar de silêncio e outro lugar mais coletivo, mais discutido”, conta Suricato, que gosta do som de artistas gringos como Ed Sheeran, John Mayer, James Blake e Justin Vernon, o líder da banda folk americana Bon Iver.

Músico admirado pelo ídolo argentino Fito Páez e por ilustres do pop brasileiro como Moska (“Tenho muita influência dele e é um grande amigo”, diz), Nando Reis, Lulu Santos, Ana Carolina e Liminha, Rodrigo é muito consciente das escolhas profissionais e musicais que fez (e faz) na vida. “Acho que esse novo trabalho é fruto de um processo de autoconhecimento, do meu relógio da vida, das coisas que já realizei”, afirma o cantor, ressaltando o tom meio autobiográfico das músicas. Ouça com atenção as canções desse coração (im)perfeito.

Por Hagamenon Brito